Nas palavras do médico obstetra francês Michel Odent, “Para mudar o mundo, é
preciso, primeiro, mudar a forma de nascer”. É notório então, ao ler essas palavras o
quão importante é aprimorar e humanizar todos os procedimentos da vida
reprodutiva da mulher, iniciando-se pelos cuidados pré-natais, passando pelo parto
propriamente dito e culminando com um pós-parto digno. Para o alcance desse
cenário ideal, é necessário, antes de qualquer outra ação, um estudo acerca das
violações do direito de um parto digno, direcionado às mulheres negras.
Historicamente, as mulheres negras sempre estiveram em posição de inferioridade
em relação às brancas, inclusive diante de direitos conquistados. As raízes dessa
mazela remontam ao processo de colonização das nossas terras. Estima-se que,
entre o século XVI e meados do século XIX, 4 milhões de negros foram trazidos à
força da África para trabalhar como escravos, primeiramente na mineração e,
posteriormente, na agroindústria canavieira. Todo esse cenário criou as condições
para o surgimento do racismo estrutural, que trata o negro como inferior por parte da
sociedade branca do nosso país. Esse racismo estrutural é um dos fatores que
impedem que as mulheres negras sejam tratadas nos mesmos moldes das mulheres
brancas, sendo negado a elas um tratamento respeitoso durante e após a gestação.
Dessa forma, a perpetuação de mitos, estigmas e preconceitos histórico-sociais
atrasa o processo de conscientização da sociedade e dos profissionais de saúde. Ao
jogar luz sobre esse grave quadro, que conta com as inúmeras falhas do Estado em
combater e punir esse crime, esse trabalho é de extrema importância e urgência
para revelar o racismo velado que as mães pretas sofrem no processo de gestar
uma criança e no ambiente hospitalar.