RESUMO
Introdução: A sífilis congênita continua sendo um importante problema de saúde
pública no Brasil, especialmente na região Nordeste, onde as desigualdades sociais,
barreiras de acesso aos serviços de saúde e a baixa cobertura de testagem contribuem
para a manutenção das elevadas taxas de incidência da doença. Mesmo com a
ampliação das políticas de triagem e tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS), o
Brasil não tem conseguido alcançar a meta estabelecida pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) de eliminação da transmissão vertical da sífilis, apresentando elevadas
taxas de incidência da doença em diversas regiões do país. Objetivo: O presente
estudo teve como objetivo descrever o perfil epidemiológico da sífilis congênita no
Estado de Pernambuco entre os anos de 2018 e 2023, analisando a distribuição dos
casos bem como os principais fatores associados. Métodos: Trata-se de um estudo
epidemiológico descritivo, retrospectivo e de corte transversal baseado em dados
secundários do Sistema de Informação de Agravos e Notificação (SINAN/DATASUS).
Foram avaliadas as variáveis: idade materna, escolaridade, raça ou cor, realização e
momento do diagnóstico durante o pré-natal, tratamento da gestante e do parceiro,
evolução do recém-nascido e desfechos adversos, como aborto, natimorto e óbito
neonatal.
Resultados: No período analisado, foram notificados 11.429 casos, com predomínio na
microrregião do Recife. Observou-se maior frequência de diagnósticos no momento do
parto ou curetagem (41,0%) e elevada proporção de parceiros não tratados (33,9%),
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refletindo falhas na triagem pré-natal e na abordagem integral do binômio gestanteparceiro. A maioria dos casos ocorreu em recém-nascidos de até seis dias de vida
(96,4%), com predomínio de sífilis congênita recente (93,6%) e associação com fatores
como baixa escolaridade materna e cor parda. Discussão: Os achados revelam alta
carga de sífilis congênita em Pernambuco, com concentração em Recife e expansão
para microrregiões vulneráveis. A distribuição reflete desigualdades sociais e falhas no
pré-natal, como tratamento inadequado de parceiros, diagnóstico tardio e registros
incompletos. A gravidade dos casos e o risco elevado de óbito infantil reforçam a
importância do rastreio precoce, tratamento oportuno e inclusão do parceiro na linha de
cuidado. Conclusão: Os achados demonstram a persistência de elevada carga de sífilis
no Estado de Pernambuco, com concentração nas áreas metropolitanas. Esse cenário
reflete a fragilidade na assistência pré-natal, o que reforça a necessidade do
fortalecimento de políticas públicas de prevenção e controle da doença.